sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


O "Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil", lançado nesta quinta-feira (24/02), em Brasília, pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, revela que o número de homicídios entre a população negra é explosivo e que os altos índices de vitimização – que piora entre os jovens -, beiram ao cenário de extermínio.

Segundo o Estudo, elaborado pelo Instituto Sangari, em parceria com o Ministério da Justiça, e coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, o número de pretos e pardos assassinados no Brasil aumentou entre 2002 e 2008, enquanto que o número de brancos vítimas desse tipo de crime caiu.

Proporcionalmente, segundo o Mapa, baseado em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, morrem, proporcionalmente, mais do que o dobro de negros do que de brancos, vítimas de homicídios.

Números assustadores

Em 2002, em cada grupo de 100 mil negros, 30 foram assassinados, número que saltou para 33,6 em 2008. Já entre os brancos, o número de mortos por homicídio, que era de 20,6 por 100 mil, caiu para 15,9.

Em Estados como Paraíba e Alagoas, segundo o sociólogo Jacobo, os números são ainda mais estarrecedores: em Alagoas, para cada jovem branco assassinado, morrem mais de 13 jovens negros; na Paraíba são 20 jovens negros mortos para cada jovem branco.

Os dados por raça só passaram a ser levados em conta a partir de 2002. O Mapa da Violência também leva em conta mortes por acidente de trânsito e suicídios registradas de 1.998 a 2008.

A situação, segundo o Mapa é muito pior entre os jovens, onde a taxa de homicídios entre os brancos de 15 a 24 anos, registrou queda de 30%. Entre os negros, na mesma faixa etária houve aumento de 13%.

A vitimização da população negra passou a ficar evidente a partir de 2002, quando os dados começaram a ser levantados. Em 2002 morriam proporcionalmente 46% mais negros que brancos, percentual que passa para para 67%, em 2005, e para 103% em 2008.
Fonte: afropress.com

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Humilhada no Walmart, mulher negra acaba em Hospital


A dona de casa Clécia Maria da Silva, 56 anos, denunciou ter sido submetida a humilhações por parte de seguranças do Supermercado WalMart, da Avenida dos Autonomistas, em Osasco, ao ser tratada como ladra e ter sua bolsa revistada por um dos seguranças.

“Deixe ver essas bolsas”, teria dito o segurança, que não se identificou, ao segurar com força no seu braço à saída da loja. A dona de casa é negra e disse que, ao revistar sua bolsa, o homem teria dito: “Isso acontece mesmo com os pretos”.

Por causa da abordagem, em que as três bolsas que carregava foram retiradas das suas mãos e as mercadorias expostas, e com a aglomeração das pessoas que se formou, dona Clécia passou mal e teve que ser removida para o Hospital Montreal, pela ambulância do serviço de saúde do Supermercado.

Ela permaneceu internada cerca de 4 horas – entre as 18h52 e 22h50. A médica que a atendeu, Daniela Camargo, diagnosticou hipertensão e disse a Érica Patrício da Silva, a nora que foi chamada para socorrê-la, que ela esteve muito próxima de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O caso aconteceu na quarta feira, dia 16 de fevereiro, e a ocorrência foi registrada na sexta-feira, dia 18/02, no 9º Distrito Policial de Osasco, em Presidente Altino.

Humilhação e vergonha

Segundo dona Clécia, ela estava com o cupom fiscal na mão, comprovando que havia pago R$ 10,47 "por uma bisnaguinha, um pão pulmann e três suportes de botijão". “Quando eu saí fora, veio um segurança, pegou no meu braço. Depois pegou a minha bolsa e falou: “Isso acontece mesmo com o s pretos”. Todo mundo olhando prá mim. Fiquei muito nervosa. Não estava agüentando mais ficar de pé. Depois, quando viram que eu estava passando mal, vieram e me deram uma água quente da torneira. A pressão subiu muito e eu estou abalada até hoje”, afirmou.

A dona de casa mora na Vila Serventina e disse que, habitualmente, faz compras na loja do Walmart.

Por causa da crise hipertensiva desencadeada pelo episódio, dona Clécia, que é evangélica, teve de retornar ao Hospital no sábado, dia 19/02, quando voltou a ser medicada. “Não sei porque eles fizeram isso comigo. Ele me obrigou a abrir a bolsa, e depois que viu que não estava levando nada e que havia pago tudo, assinou o canhoto da comprinha que eu fiz”, contou.

Depois que começou a passar mal e viu que ia desmaiar, ela disse que só teve tempo de pedir por socorro para a nora, que normalmente a acompanha ao supermercado. Érica disse ter ficado assustada quando recebeu o telefonema.

“Ela me ligou desesperada. Venha aqui no Walmart, pelo amor de Deus. Quando cheguei a gerente do supermercado estava com a bolsa dela na mão. Eles estavam tratando dona Clécia como uma ladra, pelo traje que ela estava vestida e pelo fato de ser negra”, acrescentou.

Segundo ela, foi a própria ambulância do da loja que levou dona Clécia para o Hospital. “Quando viram que ela estava passando mal, vieram os seguranças todos, veio o chefe dele e mandou que eu calasse a boca e que devia ficar quieta, porque o importante era levá-la ao Hospital”, contou.

Erica contou que a médica que atendeu disse que a pressão estava muito alta e que se demorasse um pouquinho teria um AVC. Indignada, ela disse que chamou uma viatura da Polícia Militar, no próprio Hospital, e foram os policiais militares que a orientaram a registrar a queixa na Delegacia de Polícia.

Providências

Ainda abalada, e com marcas nos braços do soro e do medicamento que tomou no Hospital, dona Clécia, disse que quer Justiça, para que o que aconteceu com ela não se repita mais com ninguém.

A rede de supermercados Walmart – que está no Brasil desde 1.995 - ficou em primeiro lugar no ranking das 500 maiores empresas globais de 2010, segundo a revista norte-americana Fortune. Com faturamento estimado em US$ 408,214 bilhões, está presente no Brasil em 18 Estados das regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, além do Distrito Federal, com mais de 400 lojas e emprega cerca de 80 mil pessoas.

Fonte: afropress.com



Prezadas e prezados,


O texto a seguir é o editorial do informativo eletrônico afropress.com e evidencia a mais nova forma de racismo - racismo sem ódio. Acompanhem!




O cartunista e escritor Ziraldo, o mesmo que, em 1.971, deu início a campanha que levou à destruição da carreira artística e, posteriormente, à morte mesmo, do cantor negro Wilson Simonal, apresentado injustamente e sem qualquer prova como dedo duro da ditadura, voltou a atacar. Decidiu que é hora de reinventar o conceito de racismo e, lançando mão de sua criatividade gagá, o dividiu em dois: o racismo com ódio e o sem ódio.


O sem ódio, segundo o autor de "O Menino Maluquinho", “não é problema”. Tudo “prá acabar com essa brincadeira de que a gente é racista”, defende-se, sem que até o momento alguém o tivesse acusado.

O drama de Simonal e o papel de Ziraldo, Jaguar e companhia é exposto no documentário “Ninguém sabe o duro que dei”, de 2009, dirigido por Cláudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer, que mostra o drama vivido pelo cantor ao ser apresentado como delator de militantes de esquerda, em um tempo em que isso significava a morte sob tortura nas masmorras do regime militar.

Antes do Pasquim estampar a célebre capa com o dedo negro indicador de Simonal apontado, em julho de 1969, o mesmo Pasquim de Ziraldo publicara entrevista de capa sob o título “Não sou racista”, em que o cantor era acuado com perguntas sobre racismo e ridicularizado por comer caviar e ter mordomo.

Agora, ele decidiu conceber e assinar a camiseta do Bloco carnavalesco “Que M* é Essa?!”, que tem por tradição fazer a crítica a escândalos políticos e combater o que chama de patrulhamento nas escolas dos livros de Monteiro Lobato.

O incômodo de Ziraldo ocorre à propósito do parecer do Conselho Nacional de Educação que recomendou ao MEC, no ano passado, a exclusão do livro “Caçadas de Pedrinho” do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), e que, na hipótese de decidir mantê-lo, exija das editoras uma Nota Explicativa sobre o ano e o contexto em que foi escrito – em 1.933 -, um tempo em que a própria Constituição de 1.934 advogava a higiene racial.

A posição de Lobato e a defesa do Eugenismo presente em toda a sua obra, são notórios. Não menos notórios são o uso e o abuso de estereótipos racistas.

Ziraldo, porém, finge a tudo ignorar e embarcou de corpo e alma na defesa de Lobato, desenhando o escritor abraçado a uma negra, e junto deles "o pau que atiraram nele e o cravo que brigou com a rosa".

O ataque ao politicamente correto do Bloco, sob o lema "É proibido, proibir" é uma gigantesca farsa. O próprio nome do Bloco foi censurado pela Prefeitura do Rio, com a palavra merda sendo transformada no M com asterisco que ilustra a camiseta de Ziraldo.

Até aí a brincadeira parece, embora nada tenha de inocente. Ziraldo, porém, resolveu não apenas carnavalizar o seu racismo enrustido e “boa praça” mas abraçar o papel de ideólogo inventor do "racismo bonzinho", uma espécie de versão ipanemense do racismo brasileiro, cordial, inofensivo, portanto, genoíno produto do mito da democracia racial, que é um dos pilares da exclusão da República de poucos em que vivemos.

Na campanha da destruição de Simonal, Ziraldo justificou-se, sem nenhum pudor, revelando a inveja e o ressentimento pelo sucesso do cantor: “Simonal deu azar de estar em grande evidência na época do maior patrulhamento ideológico. O Pasquim não admitia uma mijada fora do penico. Não quero livrar minha cara, mas tive a felicidade de não ser um dos que caíram matando nele. Era tolo, se achava o rei da cocada preta, coitado. E era mesmo. Era metido, insuportável. Morro de pena, ninguém merecia sofrer o que ele sofreu", afirmou à época do lançamento do filme.

Ziraldo é tolo e se acha, porém, não é inocente.

As professoras Eliena Souza Nascimento da Silva e Suely Santos Santana, em artigo intitulado “A representação do Negro em O Menino Marrom de Ziraldo”, escrito em 1.986, disssecam o racismo "boa praça" do cartunista.

“No caso do Menino Marrom percebe-se que, escapando a idealização proposta na década de 80, o livro apresenta, de maneira sutil, uma visão racista e etnocêntrica, permeada pela criação de estereótipo que vislumbra a depreciação do negro. "[...] o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser atropelada" (ZIRALDO, 1986, p.24).

“Aqui, fica claro que o negro, apesar de protagonista, continua sendo associado à marginalização, reforçado pelo estereótipo de que "todo negro é marginal[5]", o que implica dizer que o livro aludido contribui mais para reforçar estereótipos do que para desconstruí-los”, acrescentam as pesquisadoras.

Eliene Souza e Sueli Santana também chamam a atenção para o título do livro, em que o menino marrom não se reconhece enquanto negro, o autor de forma sutil passa para o leitor que o menino marrom se aproxima mais do ideal mestiço, arraigado no imaginário social. A "mistura" pregada pelo autor, visa à aproximação do padrão de beleza branca, concluem as pesquisadoras.

Alguém precisa dizer para Ziraldo que seus volteios retóricos não escondem o conteúdo do seu racismo enrustido, hipócrita e dissimulado, mas, nem por isso menos letal.

O seu deboche fora de contexto não tem a menor graça, uma vez que a mesma coragem que demonstra para afrontar, a nós, negros brasileiros – vítimas cotidianas, inclusive do racismo bonzinho que advoga – falta-lhe para usar imagem semelhante em relação, por exemplo, ao nazismo, responsável pela morte de cerca de 6 milhões de judeus, negros e ciganos nos anos 30 na Alemanha.

Seria interessante ver o cartunista em fim de carreira justificar para as vítimas do nazismo que existe o "nazismo com ódio e o nazismo sem ódio", e que o "nazismo sem ódio" não é mau, como sustenta em relação ao racismo.

Ao menos em respeito aos seus próprios cabelos brancos deveria ter um mínimo de dignidade de respeitar os nossos, a nossa história, os sofrimentos dos nossos antepassados sob o escravismo e dos que ainda continuam sendo alvos cotidianos, dos jovens na mira diária das balas assassinas (um jovem negro tem mais 3,7 vezes mais chances de ser assassinado antes de completar 18 anos do que um branco), fruto e resultado da cultura perversa - inclusive do racismo sem ódio e bonzinho que ele acaba de inventar.


São Paulo, 17/2/2011

Por:Dojival Vieira
Jornalista Responsável (Fonte: afropress.com)
Registro MtB: 12.884 - Proc. DRT 37.685/81

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Mesmo sem apoio, devotos celebram a Mãe dos orixás








Fogos, cânticos, oferendas, devoção e muita fé. Foi desta forma que as entidades ligadas à preservação e valorização das religiões de matriz africana (Liga de Religiões Afro-Brasileiras e Ameríndias – LIRA, Associação Beneficente Ylê d’Oxum Apará – ABYOA e Federação de Cultos Afro-Religiosos de Umbanda e Mina Nagô – FECARUMINA) realizaram nesta quarta-feira (02), na Beira-Rio (em frente ao Trapiche Eliezer Levi), a tradicional Festa de Iemanjá.
A festividade, que já faz parte do calendário cultural do município de Macapá, reuniu adeptos e devotos da Rainha do Mar, para pedir suas bênçãos e proteção. Iemanjá é freqüentemente representada sob a forma latinizada de uma sereia, com longos cabelos soltos ao vento. Chamam-na também de Dona Janaína ou Mãe dos Orixás.
De acordo com Pai Marco, mesmo sem apoio institucional, a Festa de Iemanjá já é uma das mais importantes festividades do calendário da religiosidade e congrega os adeptos e filhos de Iemanjá. Atualmente as homenagens a essa orixá começam de madrugada, com devotos do candomblé e do catolicismo colocam as ofertas e bilhetes com pedidos em balaios que serão atirados ao mar.
Para Reinaldo Kaiangu, a ausência da parceria do poder público representa uma afronta à religiosidade de matriz africana só ratifica o racismo institucional, o qual se demonstra ainda está bastante presente em nossa sociedade.
Mais uma vez a imprensa ignorou a data, por outro lado, ela agiu de forma preconceituosa ao noticiar, de maneira sensacionalista,a presença de um "caixão" com frutas dentro de um cemitério.