terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Lutamos por Justiça, Reparação e Liberdade!


Nós, familiares de vítimas da violência do Estado Brasileiro, jovens negras e negros, moradores de favelas e periferias, militantes e cidadãos que lutam e são solidários, levantamos nossa voz no dia 10 de Dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Mais uma vez denunciamos o genocídio, as execuções sumárias, as torturas, o encarceramento em massa, a brutalidade dos policiais e agentes carcerários (agentes do Estado) . O Brasil, apresentado como um paraíso tropical onde serão realizadas a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, parece mais um gigantesco campo de concentração e extermínio.

Denunciamos os interesses econômicos e o racismo das elites, a corrupção política e policial que estão por trás de tanta morte e violência.

Manifestamos nossa solidariedade aos movimentos sociais que lutam pelos direitos do povo e são por isso criminalizados e perseguidos, como os sem-terra, sem-teto, povos originários, quilombolas, comunidades ameaçadas de despejo, sindicalistas.

O Judiciário não pode contribuir para o extermínio da população negra e pobre! O sistema judiciário brasileiro (juízes, desembargadores, promotores, etc) tem ampla parcela de responsabilidade nessa situação.

Crimes supostamente cometidos por negros e pobres são investigados e julgados muito rapidamente, sentenças são proferidas tendo às vezes como "prova" apenas o depoimento de policiais. As horrendas cadeias brasileiras estão superlotadas de pobres e negros, muitos com pena vencida ou direitos não atendidos. Indenizações e reparações para vítimas de violações de direitos também são negadas ou demoram anos para serem concedidas.

Por outro lado, crimes cometidos por agentes do Estado, políticos e empresários levam anos para serem investigados e julgados, quando o são. Criminosos dessa classe são irresponsavelmente libertados para recorrerem em liberdade mesmo quando fazem parte de quadrilhas poderosas.

Uma parte da sociedade, muitas vezes representada nos júris populares, também contribui com essa situação. Com seu preconceito e manipulada por um sistema de desinformação, ajudam a condenar os oprimidos e a absolver os poderosos.

Estamos de pé e resistindo!

Mas a resistência negra, indígena e popular tem crescido em todo o país. As vítimas começam a ser mais do que vítimas quando se unem e lutam. Somos seres humanos em busca de justiça e dignidade!

PELO QUE LUTAMOS:

- Julgamento e punição também para oficiais superiores, superiores hierárquicos, autoridades da segurança pública e do sistema prisional, responsáveis pelos agentes do Estado que cometeram ou cometem abusos, tortura e execuções sumárias;

- Reparação e Indenização a tod em s familiares de vítimas do Estado Brasileiro;

- Efetivação real do controle externo da atividade policial pelo ministério público; Controle externo da polícia e do MP por organismos da sociedade civil;

- Ampliação de espaços, efetivamente democráticos e populares, com poder deliberativo, para aumentar o acompanhamento, fiscalização, transparência e controle da população em relação à atuação do Ministério Público, Desembargadores e Juízes;

- Revisão dos critérios, divulgação e informação para formação do Júri Popular, de modo que represente efetivamente a sociedade (que em sua maioria é mulher, pobre e não branca) e seja corretamente informado e motivado;

- Não aceitação judicial do registro de ?Resistência seguida de morte? ou ?Auto de resistência?, investigação de todas as mortes provocadas por agentes do Estado como homicídios;

- Contra a proibição de familiares e amigos de vítimas comparecerem com roupas com símbolos e fotos nas sessões de julgamento de agentes do Estado violadores de direitos humanos;

- Contra as decisões judiciais que concedem liberdade a agentes do Estado acusados de violações de direitos humanos, quando tal liberação significar ameaça e intimidação a familiares, testemunhas, movimentos sociais e defensores dos direitos humanos;

- Contra as decisões judiciais de adiamento de julgamentos de agentes do Estado acusados de violações de direitos, por alegações fúteis ou duvidosas como problemas de saúde de advogados dos réus;

- Condenação do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e outros semelhantes, vigentes no sistema prisional brasileiro, como contrários à dignidade e aos direitos humanos e como forma de tortura;

- Respeito à integridade física d em s pres em s e de suas famílias (sobretudo na decisão sobre transferências e nas visitas), e aplicação efetiva de todos os direitos assegurados a em s pres em s pela Lei de Execuções Penais;

- Ampla vistoria pelo Judiciário dos abusos ocorridos em todo sistema prisional brasileiro (incluindo as verdadeiras prisões de menores, crianças e adolescentes), e aceleração da soltura das milhares de pessoas que já cumpriram suas penas e/ou poderiam ser beneficiadas tendo-as reduzidas;

- Acompanhamento mais ativo pelo Poder Judiciário do cumprimento do Estatuto da Criança e Adolescentes integralmente;

- Criação de Comissões Especiais no Judiciário que aprofunde medidas efetivas para diminuir as violências contra Mulheres, Negros, Indígenas e Ciganos;

- Imediato agendamento do novo júri do processo que julga o homicídio de Pedro Nacort Filho, assassinado por policiais militares em Vitória (ES);

- Pelo Imediato julgamento dos crimes cometidos pelo Cel. PM Ferreira, um dos braços armados do crime organizado capixaba;

- Pela apuração e punição dos crimes cometidos pelo Batalhão de Missões Especiais - BME durante as operações em unidades prisionais do Espírito Santo;

- Por reparação imediata às vítimas da violência estatal, principalmente para os familiares de Lucas Costa de Jesus, baleado dentro da Casa de Custódia de Viana por policiais e que está paraplégico; Romário Batista da Silva, 11 anos, morto pela polícia em Ibatiba, após ser acusado de roubar uma loja de doce; e Tcharles da Silva, 14 anos, executado por policiais da ROTAM (Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas-PM) em 1º de Maio - Vila Velha/ES;

- Apuração dos recentes seqüestros em série e adoções irregulares de crianças negras e pobres de Itaquaquecetuba-SP;

- Pelo desarquivamento dos casos das Chacinas do Caju (2004) e do Maracanã (1998); pela retomada e continuidade da investigação do Caso dos jovens desaparecidos de Acari (1990, caso que ameaça prescrever ano que vem); todos casos do Rio de Janeiro;

- Intervenção rigorosa do MP nas investigações paralisadas na 25a DP, de assassinatos cometidos por policiais no Jacarezinho (Rio de Janeiro), principalmente os de Elisângela Ramos da Silva, Lincoln da Silva Rezende, Fábio Souza Lima, Leandro Silva Davi e Bruno Ribeiro de Macedo;

- Julgamento dos agentes penitenciários responsáveis pela morte de Andreu Luis da Silva de Carvalho (em janeiro de 2008 nas dependências do Degase - Rio de Janeiro) por homicídio qualificado, e não apenas por lesão corporal como determinou o MP;

- Desarquivamento imediato dos processos e investigações referente aos ?Crimes de Maio de 2006? (São Paulo) cometidos por agentes policiais e seus braços paramilitares: Federalização das investigações e dos processos;

- Desarquivamento e Federalização do caso da Chacina de 2004 contra a População de Rua no centro de São Paulo-SP;

- Pelo desarquivamento e punição dos altos responsáveis pelo Massacre do Carandiru (1992, São Paulo), Luis Antônio Fleury à frente;

- Auxílio Psicológico Imediato para mães e familiares de vítimas dos Crimes de Maio de 2006, que têm sofrido com uma série de sequelas (depressão, AVC, pânico etc);

- Condenação e proibição das chamadas ?Operações Saturação? como as ocorridas recentemente nas comunidades de Paraisópolis, Heliópolis e na Cracolândia em São Paulo-SP;

- Interdição e desativação Imediata da Casa de Custódia de Viana (ES);

- Imediata recondução da Familia de Ricardo Matos ao Programa de Proteção a Testemunhas (Provita) do qual foram retirados arbritrariamente por questionarem falhas no referido programa - Ricardo Matos de 17 anos foi Morto por uma guarnição da Policia Militar da Bahia em 2008;

- Por uma investigação rigorosa e federal da morte de Clodoaldo Souza, 22 anos, em 2007 (BA), o Negro Blul e a investigação de centenas de execuções sumárias e extrajudiciais no âmbito do anterior e do atual governo que mantém a mesma prática genocida;

- Pela imediata interdição, desativação e desocupação da Colônia Penal de Simões Filhos (BA), construído em área quilombola, área de reserva ambiental e que expõe prisioneiros a gazes tóxicos que podem matá-los em caso de vazamento;

- Pela imediata demissão do Secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia Cesar Nunes e a consequente mudança na política de segurança pública racista, letal.

- Interdição e desativação Imediata da Colônia Penal de Simões Filho (BA);

- Contra a privatização do sistema penitenciário capixaba;

- Fim da Fundação Casa (SP);

- Liberdade imediata para o refugiado político italiano Cesare Battisti: repúdio à postura reacionária do STF em relação ao caso.


Familiares de Vítimas da Violência do Estado (RJ) - Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência (RJ) - Mães de Maio (SP) - Associação Amparar (SP) - Fórum da Juventude Negra (ES) - Associação de Mães e Familiares de Vítimas da Violência (ES) - Campanha Reaja ou será Mort@! (BA) - Associação de Familiares e Amigos de Presos do Estado da Bahia (ASFAP-BA) - Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) - Sindsprev Comunitário (RJ) - Associação de Moradores do Morro do Estado (Niterói/RJ) - Passa Palavra - Grupo Tortura Nunca Mais (SP) - Movimento Nacional da População de Rua (SP)

Site da Rede contra violencia

www.redecontraviolencia.org

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

E a intolerância continua....



No inicio de dezembro, mas precisamente no dia 05, num sábado, o grupo AFRORITMOS foi convidado pra uma apresentação na ação social promovida pela faculdade UVA. O evento tava uma maravilha com oferecimento de vários serviços à comunidade do bairro do Laguinho, rolou também até uma oficina de penteados afro e tranças.
Entretanto, o barato começou a ficar sinistro quando chegou o momento da nossa apresentação. Ficamos no palco por apenas 10 minutos porque a organização do evento alegou que o tempo estava no limite e o mesmo não aconteceu quando o grupo de tecno melody se apresentou logo após a gente.
Então nossa apresentação deveria ser reduzida. Esta foi a desculpa descabida pra justificar a interrupção da apresntação de um grupo que transpira NEGRITUDE, denuncia o racismo, condena o preconceito e a discriminação, e seus reflexos na sociedade. Mas nossa sociedade hipócrita prefere tapar o sol com a peneira a discutir estas problemáticas que afetam o convívio social. Mais uma vez a intolerância se manifesta, mais um vez o racismo dá sinal da sua existência ao negar que um grupo de jovens negros pudessem expressar por meio do hip-hop o resgate da auto-estima e orgulho de ser negro e denunciar o racismo.
É até irônico: a UVA desrespeitou a comunidade preta amapaense ao mesmo tempo em que é esta mesma comunidade que ocupa os assentos da faculdade. Portanto, neste momento deixo meu manisfeto contra a intolerância promovida pela coordenação do evento da UVA, que por mais que tentem jamais irão calar a voz dos filhos d'África. Enquanto tiver oxigênio no pulmão o grito do povo negro vai ecoar, propagando a luta do povo de ébano por justiça racial, por reparação, igualdade e respeito a diversidade cultural.

"Não é de admirar o eurocentrismo me omitir/ Tentando me negar ou até mesmo me excluir/ Mas não percebe que eu tô em todo lugar/ Seja na terra, água, fogo ou ar"

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Intolerância Religiosa, até quando?!




Mais uma vez somos vítimas do ódio, da estupidez, da ignorância, enfim da intolerância...da intolerância religiosa, ou simplesmente, o racismo religioso. Mais uma faceta do racismo que se manifesta.


O sacerdote Bruno Pereira, 27, que teve sua casa de santo invadida edepredada na madrugada de terça-feira (24/11), está sendo ouvido novamente, desta vez pelo delegado titular da 52 DP (Nova Iguaçu), Julio César. O novo depoimento, que teve início às 15h desta quinta-feira (26/11), foi marcado logo após o término da perícia técnica, realizada esta manhã no Centro Espírita de Umbanda Caminhos de Oxum. A polícia suspeita que fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, localizada na esquina do templo umbandista, sejam os autores do crime. O sacerdote relatou que há cerca de um mês, três seguidores da IURD quebraram as oferendas que ele havia colocado na encruzilhada e o xingaram. Em seguida refugiram-se na igreja. "Na ocasião fui conversar com o bispo responsável pela igreja. Ele pediu para não registrar ocorrência e me garantiu que isso não iria mais acontecer. Eu confiei nas palavras dele", explicou.A equipe do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, de Nova Iguaçu, utilizou técnicas de papiloscopia para tentar encontrar marcas de impressões digitais. "A polícia já tem indícios", revelou o delegado, que acompanhou todo trabalho da equipe do ICCE.


Fitas da Igreja Universal


Mesmo com uma qualidade avançada de captação de imagens de todo entorno da IURD de NovaIguaçu - segundo os policiais é possível acompanhar nitidamente até a movimentação da Via Light, a cerca de 500 m do prédio - o responsável pela igreja informou ao delegado Júlio César que as câmeras de segurança não gravam as imagens. A Polícia pretendia requisitar as fitas desegurança para aprofundar a investigação.


Solidariedade


Membros da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) prestaram solidariedade ao templo depredado. A partir de agora o sacerdote será assessorado pela coordenadoria jurídica de atendimento ás vítimas de intolerância. "É fundamental que as vítimas denunciem e registremqueixa na polícia. Aqui na Baixada é muito comum este tipo de agressão, mas as pessoas ainda têm medo de denunciar. Que este caso sirva de expemplo para que ninguém mais fique calado diante de tamanha violência", afirmou o babalawo Ivanir dos Santos, porta-voz da CCIR. Padre Gegê, da paróquia de Higienópolis, levou uma carta de apoio assinada pelo Fórum Dom Helder, de macroecumenismo da Igreja Católica. O muçulmano Salah Al-Din AhmmadMohammad, da Sociedade Beneficente do Desenvolvimento Islâmico, fez questão de ressaltar que atitudes como esta (de depredação e violência) são uma aberração aos três livros: "A Torá, o Alcorão e a Bíblia garantem a todo ser humano o direito ao livre arbítrio. Cometer um ato como este é atentar contra os mandamentos de Deus".


Revolta


Num clima de dor e revolta, religiosos pedem justiça e punição aos criminosos. "Tudo que nós queremos é que a Justiça seja feita e que os culpados sejam encontrados e punidos. Ninguém imagina que uma coisa dessas pode acontecer com a gente.O dano material é ínfimo diante da perda emocional e de violência à minha fé. Essas imagens são como familiares. Parece que tiraram um pedaço do meu coração. Não gosto nem de olhar para isso (referindo-se às imagens quebradas e reviradas), desabafou o sacerdote.


Fonte: afropress