terça-feira, 21 de agosto de 2012

E se o Negão quiser ser candidato a presidente?


O Presidente Negro é um livro de ficção de Monteiro Lobato, de 1926, cuja trama se passa nos Estados Unidos, no ano 2028. Lobato cogitou tal possibilidade para os Estados Unidos em um futuro remoto, jamais para o Brasil. Já temos um possível nome, ainda que remoto. Com o julgamento do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa chama mais uma vez a atenção para sua figura impar. É “O Negão”, personalidade que, segundo o imaginário popular, veio debaixo, do povão, chegou lá pela competência e hoje enfrenta com imensa coragem as elites políticas corruptas.
Detalhe pouco lembrado: ele será presidente do Supremo (por antiguidade) em novembro de 2012, assim que terminar o julgamento do mensalão. Tem planos para enfrentar seus próprios pares a fim de mexer com as estruturas viciadas do Judiciário. Se der certo, pode vir a consolidar sua imagem popular. E depois disso? Qual o futuro que o Destino lhe reserva?

Toda história deve ter início, meio e fim. E, nesse caso, o preâmbulo nos remete ao remoto ano de 2006, quando Joaquim Barbosa pegou a missão de relatar o processo do mensalão. Naquela ocasião, Lula estava em frangalhos políticos, cogitava até mesmo não ser candidato à reeleição. Seu principal adversário era o Geraldo Alckmin, que jamais encantou. Vários partidos buscavam candidatos, como o PSol, que acabou disputando com Heloísa Helena, e o PSB, que lançou Ciro Gomes. Poucos acreditavam que Lula ressuscitaria das cinzas e ainda teria músculos para eleger uma técnica desconhecida e sem carisma como sucessora.

Sem ter nada a ver com a política, Joaquim acenou que seria duro com os réus do mensalão em seu futuro relatório. Fez simplesmente isso. Mas bastou um mero aceno para começar a construir uma imagem pública no imaginário popular, auxiliado por dezenas de reportagens que relatavam sua infância pobre em Paracatu, o filho de um mecânico de automóveis que passou no difícil vestibular em Direito da Universidade de Brasília, conquistou por concurso vaga de Procurador da República, depois PhD por Sorbonne, professor de Direito na Califórnia, jovem desembargador do Ministério Público Federal, até chegar ao Supremo.

Enfim, alguém que chegou lá por seus próprios méritos, e não somente por conta da política de cotas raciais iniciada no governo Lula.

Resultado: Joaquim começou a usufruir de inesperada popularidade. Era aplaudido de pé nos restaurantes que porventura entrasse –presenciei uma cena dessas em uma pizzaria no bairro da Asa Sul e li sobre muitas outras. Era cumprimentado por populares nos shoppings de Brasília e pelas ruas Rio de Janeiro, onde mantém apartamento no bairro do Flamengo, com belíssima vista para a Bahia da Guanabara, comprado em suaves prestações quando ainda era procurador de primeira instância.

Certo dia foi a São Paulo e teve que caminhar por alguns quarteirões. Foi-lhe muito difícil, tamanho o assédio de populares que queria abraçá-lo.

Ganhou então o apelido popular e carinhoso de “Negão do Supremo”, ou simplesmente “O Negão”. Ninguém se importava muito de lembrar de seu nome, nem de seu cargo exato. E ainda não se importa. Mas criou-se no imaginário social a ideia de que no Brasil existia um “Negão” que veio debaixo, gente como a gente, hoje juiz muito poderoso e corajoso, sem papas-na-língua, e que iria dar jeito na pouca-vergonha desses políticos.

Foi nesse cenário de época que Joaquim chegou a ser sondado por partidos políticos para uma eventual candidatura à Presidência da República. Foi até mesmo fortemente assediado pelo PMDB de Michel Temer. Declinou dos convites, como é sabido.

Mas ainda no calor daquelas circunstâncias, Joaquim Barbosa chegou a revelar parte de seus planos a um amigo de confiança. Primeiro teria que se dedicar muito ao processo do mensalão, que demandaria todo seu tempo pelos anos subsequentes. Teria que fazer um bom trabalho nesse processo. E vencer. Estamos nesse momento na linha do tempo.

Em 2012, explicou ele ao amigo lá naquele remoto 2006, chegaria sua hora de ser presidente do Supremo. Ao término do seu mandato, talvez não tivesse muito sentido para seu coração voltar a ser um ministro comum –ainda que ser um dos 11 ministros da Supremo Corte jamais venha algo banal. Mas apenas estudar processos e escrever votos talvez não lhe fosse mais estimulante. Ai, então, seria possível que viesse a cogitar novos desafios. O final de seu mandato na presidência do Supremo coincide com a próxima eleição presidencial.

Obviamente precisará fazer mandato diferenciado na Presidência do Supremo para efetivar aquilo que o imaginário popular espera dele. Tudo indica que Joaquim terá um futuro repleto de adversidades, mas também com uma visibilidade que nenhum de seus antecessores usufruiu.

Ele já confidenciou a amigos que pretende mexer com algumas estruturas viciadas do judiciário. Um dos esquemas (expressão deste escriba, ressalte-se) que muito o incomoda é a prática de dezenas de advogados, filhos de magistrados de tribunais superiores, pegarem causas justamente nas cortes onde seus papais são ministros. Ou o revezamento que poucos advogados especializados em Direito Eleitoral, amigos de convescote de ministros do Supremo, serem indicados para ministros (temporários) do Tribunal Superior Eleitoral, o TSE.

Joaquim tem algumas características da personalidade (forte) que lhe ajudam, outras que atrapalham. Seus amigos convergem na assertiva sobre sua integridade moral rara. Chega a ser um jacobino. É um estoico, com hábitos pessoais ascéticos, próximos aos de um eremita. Os amigos também convergem sobre sua imensa coragem pessoal e disposição de enfrentar poderosos.

Mas falta a Joaquim a capacidade de boa convivência entre seus pares (e decerto entre políticos), aquilo que hoje se chama de inteligência emocional. Ele entrou no julgamento do mensalão está rompido (ou com rusgas) com mais da metade de seus pares de Corte. Em poucos dias, conseguiu criar arestas com quase todos. Imaginem o que poderá ocorrer quando vier a mexer com as tais estruturas viciadas do judiciário? Decerto sofrerá boicotes de muitos e apoio de poucos. Ademais, por conta de sua personalidade por demais independente, será difícil que algum grande partido político lhe confie a legenda. Mas decerto sobrarão legendas para circundá-lo.

O assédio político que o “Negão do Supremo” sofreu há seis anos pode não significar coisa alguma de relevante na eleição presidencial de 2014, quando desde já Dilma Roussef desponta como franca favorita. Entretanto, invocando a célebre frase de Magalhães Pinto –política é como nuvens, a cada momento em que olhamos para o céu elas estão diferentes.

Assim, neste momento em que os olhos do eleitorado se voltam para o processo do mensalão, no qual Joaquim é sem dúvida a grande estrela, torna-se prudente aos que gostam de prospecções incluí-lo entre os vetores que despontam horizonte.

Texto: Hugo Studart
Fonte: afropress.com

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

QUILOMBO E MATRIARCADO - RAINHA NGOLA NA REGIÃO AMAZÔNICA

Os estudos sobre o matriarcado deveriam pautar a historiografia brasileira, mas o poder patriarcal e androcêntrico nos estudos acadêmicos cerceam e omitem o matriarcalismo nas reconstruções de sociedades africanas no Brasil.

Quando falamos em quilombo, mocambo, cafundó, terra de preto e outras designações pelos quais os estudiosos adjetivam a resistência dos escravizados através da fuga e da formação de aldeamentos, é deveras importante entender a questão de poder e as relações sociais capazes de permitir por séculos que estas experiências se tornassem viáveis até os dias atuais.

O matriarcado esteve presente em todas as migrações voluntárias dos africanos pelo planeta. Trazida com os prisioneiros (as) das guerras travadas em Mãe áfrica (sociedades matriarcais) pelos cristãos europeus (sociedades patriarcais), esse modelo de organização será o tema que discutiremos em breve.

Os bantus (“humanos”, na linguagem do Congo) que falam cerca de quatrocentos idiomas e habitam do oeste para leste o Gabão, Camarões e norte ao sul do Sudão até a Namíbia. Os vários grupos étnicos Bantus dominaram a metalurgia do ouro e do ferro, usando este último, produziram machados, espadas, enxadas e enxós. Além disso, as habitações têm uma arquitetura particular de cabanas circulares ou aldeias chamadas de Msonge. Tais avanços permitiram a colonização de seus territórios ao longo de um período de cerca de quatro mil anos. Muitos grupos étnicos bantus foram sequestrados para as Américas e trouxeram consigo as suas experiências matriarcais.

No seu último livro, que não viu impresso, Décio Freitas visitou uma das menos conhecidas revoltas populares da história brasileira, o movimento que nos livros escolares aprendemos com o nome de Cabanagem. Dizendo em palavras vagas, foi uma insurreição ocorrida principalmente em Belém, entre 1835 e 1840, e reprimida sangrentamente – teriam morrido no total umas 30 mil pessoas, cerca de 25% da população do Pará na época. Foi designada com esse nome por motivos triviais: é que de fato a maior parte dos envolvidos vivia em cabanas pobres, em malocas improvisadas, numa vida miserável que foi, sem dúvida, o combustível da revolta.
No livro A Miserável Revolução das Classes Infames, Freitas relata sobre a existência de um quilombo matriarcal na floresta amazônica, liderado pela rainha NGola e outras guerreiras, informação obtida após a tradução de cartas de Jean-Jacques Berthier, um francês que aos 14 anos de idade teve que fugir da França para Guiana Francesa após ser assediado por um pedófilo que o condenou na Revolução francesa.

Fugindo das batalhas que assolaram o país depois da independência, ele foi parar num desses mocambos matriarcais – justamente o da rainha Ngola – e viveu lá entre 1824 e 1828. Sua carta enviada ao irmão Guillaume, em Nantes, na França, foi pesquisada pelo historiador Décio Freitas para o livro A Miserável Revolução das Classes Infames e mostra com riqueza de detalhes como era a vida nesse pedaço da África em plena floresta amazônica.

Berthier informa que eram quatro quilombos adjacentes com 300 moradores em cada um deles e um principal com uma média de 700 moradores, sendo um total de 1900 habitantes. Assevera de que o quilombo principal já tinha cinquenta anos de existência e a rainha que governava já era a terceira Ngola. Um detalhe chama a atenção da descrição da rainha. ela estava em uma cadeira de espaldar alto colocada em uma plataforma, via-se na altura do espaldar uma serpente de ouro encastoada.

No decorrer do relato sobre os mocambos o poder da rainha é demonstrado com castigos impostos aos homens que só podia conversar com ela prostados de joelhos, e quando falavam algo não consensual eram castigados com até três bastonadas na cabeça. Berthier ao ser recebido para solicitar asilo não se prostou sendo imediatamente castigado, e aprendeu a lição de respeito ao matriarcado, recebendo também uma bastonada e prostou-se. Asilo aceito e algumas condições foram expostos:

- Poderia viver na comunidade como irmão, mas, não era permitido relações sexuais com as mulheres pretas, nem se pagasse o dote. O motivo apresentado pela rainha era porque as mulheres eram poucas e necessárias para a reprodução da raça preta sem mistura de sangue branco ou indígena. Mas, poderia casar com uma mulher nativa e tornaria capitão das milícias nas lutas contra os brancos que não permitiam a liberdade dos pretos e eram pérfidos. 

Interessante são os relatos do francês sobre o poder matriarcal que o deixou embasbacado

A RELAÇÃO CONJUGAL POLIANDRICA

As mulheres escolhiam os companheiros e eles passavam pelo teste da convivência por alguns meses, só assim ela analisava se ele era satisfatório. Se por acaso fosse aprovado tinha que pagar um dote requisitado pela noiva e ela declarava a todos da aldeia que ele era a partir daquele momento o seu marido. As mulheres podiam ter até cinco maridos, robustos e ágeis, escolhendo qual deles ela manteria relações sexuais e os mandava embora no momento que assim entendessem. Os maridos moravam em suas próprias cabanas e elas escolhiam entre eles um que era o responsável de supervisionar a família que poderia ter 20 filhos, este “privilegiado” morava em sua cabana. Outra atribuição masculina era carregar a esposa nas costas, quando ela não queria andar a pé.

Em Moçambique, existem ainda sociedades matriarcais e poliandricas, onde as mulheres têm voz mais ativa e poder. Estas sociedades remanescentes encontram-se no norte de Moçambique. Um amigo relatou que encontrou uma mulher que teve um marido, filhos e depois o deixou, e ela encontrou outro e outro e voltou a relacionar-se com o primeiro e tem um outro que vive em casa. Eles se coordenam e visitam aquela mulher sem conflitos com o atual, aquele que vive em casa é o atual marido, enquanto os outros são SOBRESSALENTES, como elas chamam.

ECONOMIA

A economia da comunidade baseava-se no trabalho masculino na agricultura, caça, pesca, tecelagem, olaria, serralheria, extrativismo e mineração de ouro vigiados por guerreiros da rainha. O ouro era utilizado para confecção de joias para a rainha e o restante para conseguir armas. Realizavam também trocas de gêneros com holandeses da Guiana. também vendiam tabaco e mandioca para as populações ribeirinhas e praticavam a pirataria: os soldados de Ngola atacavam canoas em rios distantes, roubando os viajantes – ou então saqueavam povoações de brancos.

FORÇA DE DEFESAEra composta de guerreiros de cabeça raspada e não trabalhavam para a suas esposas e tinham o privilegio de obedecer somente à rainha Ngola. Constantemente realizavam ataques de guerrilhas a povoações dos brancos para o saque.

RELIGIÃOMantinham as práticas das religiões ancestrais e conforme relato do Frances:

"Reverenciam ídolos com feições de homens, mulheres e feras, aos quais periodicamente fazem sacrifícios. Qualquer celebração religiosa deve ser autorizada pelo feiticeiro, que é também o curandeiro em suas doenças." 


Notamos um desconhecimento completo da metafísica religiosa bantu por Berthier, embasado de preconceitos cristãos sobre o que não entendia.

LAZER
Dança e música usando os instrumentos “pungo” e marimba. O missivista demonstra perplexidade com as mulheres que passavam o tempo sentadas no chão conversando, cantando e fumando tabaco.

O machismo de Berthier não entendia o matriarcalismoe na sua visão androcentrica as mulheres deveriam servir aos homens.

EDUCAÇÃOA oralidade através de contadores de histórias.

Relata Freitas: "É uma pena que Berthier não se alongue mais na narrativa sobre a sua experiência no mocambo. Seria nada menos que sensacional se desse mais informações sobre aquela sociedade poliândrica, semelhante à de Palmares e às de algumas regiões da África. Mas não indica sequer aproximadamente a localização geográfica do mocambo, embora certas referências permitam supor uma região para os lados da Guiana Francesa.
O laconismo talvez se deva ao fato de ter jurado, com sangue, perante a rainha Ngola, guardar rigoroso segredo sobre o mocambo."


Concluo este artigo citando um provérbio que com certeza se aplicou a Berthier:

"O olho nunca se esquece do que o coração vê."
Provérbio bantu.


Fonte: http://cnncba.blogspot.com.br

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Mais polêmica! Cotas Raciais nos partidos ainda sofrem resistência

Mesmo no Partido dos Trabalhadores (PT), que é considerado o mais avançado no trato do tema das cotas para negros, tendo discutido o assunto no seu último Congresso realizado no ano passado, o assunto ainda provoca desconforto.

Segundo o ex-Secretário Estadual de Combate ao Racismo do PT, em S. Paulo, Cláudio Silva, Claudinho, as cotas aprovadas no Congresso só valem para a disputa de cargos na direção partidária. “Ainda não temos cotas nas eleições de ano para vereador”, afirma.

Até mesmo a paridade para mulheres, aprovada pelo Partido (50%) só passa a valer a partir das eleições de 2014.

No PC do B, que também integra a base governista, o coordenador geral da corrente negra do Partido – a UNEGRO – historiador Edson França, admitiu que o tema não entrou na pauta para a escolha dos candidatos nas eleições deste ano.

Oposição

Se os partidos governistas – PT, PC do B, PSB e PMDB – ignoram as cotas, na oposição – PSDB – a situação não é diferente. Cotas para candidatos, admitem as lideranças negras tucanas, permanece tema fora da agenda.

Também em Partidos de Oposição, auto-proclamados de esquerda como o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), o silêncio é a tônica, quando se trata de cotas para negros. 

Segundo Joselício Júnior, Juninho, Juninho, da coordenação do Círculo Palmarino, e do setorial de negros do PSOL, o Partido “não tem nenhuma definição ainda sobre o tema”. “A única cota no Partido é de mulheres que é de 30%, em todas as instâncias. Em 2014, a proposta é que seja de 50%”, afirma.

Juninho atribui a ausência de cotas para negros no PSOL “primeiro a dificuldade do próprio setor de negros e negras se articular dentro do Partido”. “Nós ainda não provocamos esse debate, por isso que não saiu ainda. O que o partido tem valorizado são os setoriais; é um partido recente que ainda está em fase de estruturação. Tem a Revista Negra e o debate está avançando dentro do Partido”, acrescenta.

Ele acredita que as cotas só acontecerão quando forem instituídas em Lei como no caso das mulheres, mas reconhece que as próprias legendas poderiam tomar a iniciativa por meio de suas instâncias internas

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha foi criado em 25 de julho de 1992, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana. Estipulou-se que este dia seria o marcointernacional da luta e da resistência da mulher negra. Desde então, sociedade civil e governo têm atuado para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em conta a condição de opressão de gênero e racial/étnica em que vivem estas mulheres, explícita em muitas situações cotidianas.

O objetivo da comemoração de 25 de julho é ampliar e fortalecer às organizações de mulheres negras do estado, construir estratégias para a inserção de temáticas voltadas para o enfrentamento ao racismo, sexismo, discriminação, preconceito e demais desigualdades raciais e sociais. É um dia para ampliar parcerias, dar visibilidade à luta, às ações, promoção, valorização e debate sobre a identidade da mulher negra brasileira.



Hoje no Amapá, a Rede Fulanas, estará promovendo uma ação social na Praça da Bandeira, a partir das 16h00.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

SEPPIR pede ao Ministério Público para monitorar intolerância religiosa em Pernambuco


No ano em que se celebra o centenário de um dos episódios históricos mais violentos contra povos de comunidades tradicionais - a "Quebra de Xangô", ocorrida em Maceió, em 1912 - a intolerância religiosa volta a se repetir, desta vez, em Recife. O Jornal do Comércio de Pernambuco divulgou hoje (18) um vídeo em que centenas de pessoas tentaram invadir um terreiro de matriz africana no último domingo (15). O acontecimento se dá quatro dias depois de um outro grupo de pessoas invadir e atear fogo em terreiros da cidade Brejo Madre de Deus, no agreste pernambucano, onde um menino de nove anos foi assassinado num suposto ritual de sacrifício em que os suspeitos seriam umbandistas.
Diante da gravidade da situação e do risco para os fieis das tradições de matriz africana em Pernambuco, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) solicitou auxílio do Grupo de Trabalho Antirracismo do Ministério Público do Estado para monitorar os acontecimentos.
Em Recife, o ato de intolerância religiosa foi registrado pelo babalorixá Érico Lustosa, que narra o vídeo cobrando uma posição da polícia a fim de evitar uma "guerra religiosa". Na descrição do vídeo postado no Youtube, Lustosa afirma que as pessoas gritavam "Sai daí, demônio" e forçavam o portão do terreiro, que não teve seu nome divulgado.
"Em todos os segmentos populacionais, em todas as tradições, em todas as religiões podem existir pessoas desonestas e criminosas. A generalização que leva à depredação desses terreiros é fruto do racismo, que impede que se enxergue os atos individuais nessas circunstâncias. Não é porque alguém supostamente ligado a esta ou aquela tradição cometeu um crime que se justifica essa resposta agressiva a toda uma comunidade", avaliou a secretária de Políticas para Comunidades Tradicionais da SEPPIR, Silvany Euclênio.
Já em Brejo de Madre de Deus, o motivo da revolta contra o terreiro foi o fato de terem sido encontrados utensílios semelhantes aos usados em rituais dessas comunidades tradicionais e de os suspeitos se intitularem como umbandistas. Porém, de acordo com o diretor do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Coepir) de Pernambuco, José Arruda, nas caminhadas de terreiros "não há registro daquela comunidade".
Distorção - O caso ganhou espaço na mídia local, que, como prática recorrente, denominou o crime como um "ritual de magia negra". "A palavra negra, nesse caso, traz a carga negativa para uma suposta prática religiosa ou tradicional, que, na verdade, é apenas criminosa e não está relacionada a raça", explica Silvany Euclênio. Lideranças tradicionais de matriz africana passaram a usar a Internet para manifestar solidariedade à família da criança e explicar que condenam rituais que envolvam morte humana.
Quebra de Xangô
A Quebra de Xangô foi uma das maiores violências sofridas pelos povos de comunidades tradicionais no país. No dia 02 de fevereiro de 1912, na cidade de Maceió, em Alagoas, centenas de pessoas invadiram, depredaram e queimaram os principais terreiros de Xangô da cidade, espancando líderes e pais de santo dos cultos afros. A imprensa teve um importante papel nos ataques aos terreiros. Alguns jornais usavam termos pejorativos ao se referir aos rituais. O Jornal de Alagoas realizou uma série de matérias intituladas "Bruxaria", que foram publicadas nos dias que se seguiram ao episódio.

Fonte: geledes.org.br

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mais uma caso de injustiça na cena do rep nacional!




ALEXANDRE FERREIRA, o Nego Lê, está preso por mandado de prisão preventiva por um crime de tráfico ocorrido no ano de 2010, porém não consta nada no inquérito policial ou na ação penal que possa vinculá-lo à referida prática criminosa. Não existe nenhuma sentença ou prova material que possa justificar sua prisão ilegal.
“Não ha flagrante, não ha escuta, nem caguetagem, que associa-se ele nesse Bang”, afirmou Dj Yzak.
Sua defesa em primeira instância ja pediu relaxamento de prisão e liberdade provisória que foi negada pela Juíza da Vara Unica da Comarca de São Simão. A fundamentação da prisão cautelar em nossa opinião não poderia ensejar a prisão determinada. Um pedido bem elaborado de Habeas Corpus ja foi confeccionado e deve ser protocolado hoje no Tribunal de Justiça de São Paulo. Esperamos que o colegiado de 2ª instância faça valer a justiça, bem como a lei penal brasileira e determine a imediata liberdade de nosso assistido. Em breve publicaremos o resultado.
“O Lê tem residência fixa, tem trabalho, nunca prejudicou as investigações, alias a unica vez que foi intimado nesse processo, compareceu !!! Pergunto a meus parceiros (as).. A preventiva teria necessidade e fundamentação nesse caso? enfim… contamos com todas as vibrações positivas para as finais com desfecho favorável, forte abraço obrigado pela atenção de todos !!!”, finaliza o Dj do grupo Consciência X Atual.

Fonte rapnacional.com.br

94 anos de luta pela liberdade! Viva Mandela

Nesta quarta-feira, 18 de julho, comemoramos o Dia Internacional Nelson Mandela.

Leia abaixo a mensagem do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon:

"É com muito prazer que digo hoje: Feliz Aniversário, Nelson Mandela.

Nelson Mandela tem sido um advogado e um lutador da liberdade. Um preso político, um pacificador, um presidente. Um curador de nações… e um mentor para várias gerações de líderes e pessoas de todos os lugares de todo o mundo.

Nelson Mandela dedicou 67 anos da sua vida para mudar a vida do povo da África do Sul.

O nosso presente para ele pode – e deve – ser mudar o nosso mundo para melhor.

Hoje me uno à Fundação Nelson Mandela para pedir a todos e cada um de nós que realizem 67 minutos de serviço público neste Dia Internacional Nelson Mandela – um minuto para cada ano de serviço que Madiba dedicou à humanidade.

Ensine uma criança. Alimente os que têm fome. Cuide do meio ambiente. Seja voluntário num hospital ou num centro comunitário.

Faça parte do movimento Nelson Mandela para tornar o mundo um lugar melhor. Esta é a melhor forma de desejar a Nelson Mandela um feliz 94º aniversário.

É a melhor forma de lhe agradecer por ser uma inspiração para todos nós.

Atue. Sirva de inspiração para a mudança. Faça de cada dia um Dia Mandela."

sexta-feira, 13 de julho de 2012

OS HUMANOS MAIS RICOS GENETICAMENTE


O homem mais velho do grupo étnico khoisan, na região sudoeste de África, é agora uma referência para a ciência mundial. O seu genoma completo é hoje apresentado como parte de um estudo dedicado a incluir os grupos étnicos do sul de África no catálogo dos genomas conhecidos. A investigação foi coordenada por Stephan C. Schuster, da Universidade da Pensilvânia, com a colaboração de vários institutos da América, África e Austrália.
A investigação, que faz a capa da mais recente edição da «Nature», conclui que os Khoisan (também conhecidos como bosquímanos) são muito mais diversificados geneticamente do que os europeus. O seu DNA contém mais de uma milhão de variações que até agora não se conheciam.

No estudo, os investigadores explicam que
 “a estrutura genética dos povos indígenas caçadores-recolectores do sul de África, a mais antiga conhecida linhagem do homem moderno, é importante para se compreender a diversidade humana”.

Anteriores estudos genéticos mostravam já que essa etnia divergia geneticamente de outros grupos humanos.

Agora, revelou-se a sequência genética completa do ancião !Gubi, do deserto Kalahari, na Namíbia, e de um banto da África do Sul, neste caso do bispo anglicano e prémio Nobel da Paz Desmond Tutu.

Compararam-se os resultados com outros três Khoisan de diversos sítios de Kalahari. De referir que o grupo banto é predominante na África do Sul e descende de agricultores, enquanto os Khoisan vivem há milhares de anos da caça e da recolecção.

Estes são os que se encontram, na árvore da vida, mais próximos do primeiro humano moderno, que surgiu há 200 mil anos.

Compreender diversas doenças

O estudo identificou 1,3 milhões de variantes genéticas que ainda não tinham sido observadas. Essas variações revelam que os africanos do sul são bastante distintos geneticamente dos europeus, dos asiáticos e mesmo dos africanos ocidentais.
Curiosamente, entre cada um dos khoisan analisados existem mais variações genéticas do que entre um europeu e um asiático, o que prova a sua enorme riqueza genética. Os investigadores acreditam que este estudo pode ser também o início para a compreensão de diversas doenças.

O historial médico da vida de cada um dos participantes acompanhou o estudo, facilitando a identificação de diferenças genéticas que podem ter contribuído para as suas particulares condições de saúde.

Os cientistas esperam que esses genomas possam permitir uma identificação mais precisa das doenças causadas por variações genéticas raras nos africanos do sul e também na população humana em geral.

Matéria extraída da Revista Ciência Hoje

QUE DESCANSE EM PAZ O AUTOR DO HINO DA NEGRITUDE!!!!!!

Morreu na tarde desta quinta-feira (12/07), no Hospital do Servidor Público de S. Paulo, o professor, ex-vereador paulistano e poeta, Eduardo de Oliveira, presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB) e uma das mais importantes lideranças vivas do Movimento Negro Brasileiro.

Ele sofria de problemas cardíacos e teve uma insuficiência renal causada por arritmia cardíaca, que provocou sua morte. O velório acontecerá a partir das 11h desta sexta-feira (13/07), na Câmara Municipal de S. Paulo, no Viaduto Jacareí, 100, centro de S. Paulo.

A morte do professor Eduardo, que era autor do “Hino da Negritude”, provocou tristeza e consternação na maioria das lideranças do Movimento Negro. “O Movimento Negro brasileiro está enlutado, entristecido com o passamento do professor Eduardo de Oliveira. Sua história de lutas para um Brasil progressista e independente, com um povo nutrido e feliz, se soma a toda uma trajetória de vida contra o racismo e os preconceitos.


Fonte: afropress.com

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Literatura afro - Poesia em defesa dos negros


Quando celebramos o nascimento de um ícone da literatura negra (Luiz Gama), socializo um poema que retrata uma das maiores violações dos Direitos Humanos no Amapá.

Tudo ocorria na mais perfeita harmonia

As matas, os rios e os seres humanos quem diria!?

Ao fechar os olhos de quem sonha

O paraíso é aqui, nas entranhas da Amazônia

A vida é simples, todavia cheia de fartura

A natureza é generosa não permite amargura

Entretanto, há algo de estranho neste ambiente

Um silêncio bucólico anuncia um perigo iminente

Eis que surge a praga, a peste, a moléstia

A personificação do mal, de tudo que não presta

A besta-fera branca travestida de cordeiro

Usurpador da vida, ambicioso, interesseiro

Servo do capital norte americano

Ave de rapina, insano

Pseudos-cientistas propagadores da desgraça

O cinismo devastador da minha raça

Sua “benfeitoria” faz o quilombo sangrar

Vem de longe, muito longe, nossos direitos violar

Com a conivência do estado, dignidade violentada...

Justiça vendada, amordaçada....Vidas desrespeitadas

Pela ação desumana....

Que nos fez COBAIAS HUMANAS!!!!




segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sancionada a Lei do Dia Nacional da Umbanda



A presidente Dilma Rousseff assinou, na quarta-feira (16), a Lei 12.644 que decreta o Dia Nacional da Umbanda, a ser comemorado anualmente, em 15 de novembro. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira, 17 de maio.
O documento foi sancionado a partir do Projeto de Lei da Câmara nº 187 de 2010, que propõe em sua justificativa, o direito constitucional à liberdade de crença e o livre exercício dos cultos religiosos, conforme o inciso VI do art. 5º da Constituição. Além de defender a valorização, a origem e a difusão da religião umbandista no país por tratar-se de uma religião genuinamente brasileira, a data reporta-se ao dia, do ano de 1908, em que o médium Zélio Fernandino de Moraes recebeu, em Niterói, a missão de fundar o novo culto.
Leia a Lei na integra:

Institui o Dia Nacional da Umbanda.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
                Art. 1o  Fica instituído o Dia Nacional da Umbanda, que será comemorado, anualmente, em 15 de novembro. 
Art. 2o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
Brasília,  16  de  maio  de 2012; 191o da Independência e 124o da República. 

DILMA ROUSSEFF
Anna Maria Buarque de Hollanda
Luiza Helena de Bairros

Este texto não substitui o publicado no DOU de 17.5.2012

sábado, 19 de maio de 2012

A Resistência da Sabedoria Milena


Traga o seu cachimbo
Traga o vinho do vovô
Hoje é dia de festa
Cativeiro acabou...


É nessa entoada que durante o mês de Maio em todo o Brasil festeja-se ao som de atabaques, agogôs, caxixis, palmas e cantos em honra aos Pretos Velhos, Preferencialmente para muitos no dia 13.

Humildes de grande sabedoria e acalantado de dores e magoas os Pretos Velho que aconchega a todos com suas experiências vividas é uma das referencias mitológica africana na religiosidade afro brasileira que viveu nas senzalas durante o período da escravidão dele vem o tratados com as ervas e curandeirismo que dominou na sua trajetória de viva e com elas aprendeu a viver longamente.

No Templo Religioso Ylê Asé Ogum Tojalonam onde através da fé, energização da roda e estrondo dos tambores filhos de axé, amigos e curiosos festejaram sua devoção, alguns fizeram suas oferendas e pedidos a esses Pretos Velhos, pois quando se pede com a inocência de uma criança e amor é só aguarda que as bênçãos viram.
Uma identidade que vai muito além da religião de um povo ela se demostra através da resistência que sobreviveu e mantem-se até os dias de hoje e manifesta-se em quilombos, terreiros, roças, comunidades entre outros, mas resiste e persiste na África brasileira enquanto houver tambor.

Declaração Universal dos Direitos do Povo Negro - 92 anos de luta pelo reconhecimento de direitos

Você já ouviu falar da Declaração Universal dos Direitos do Povo Negro do Mundo?

A ideia partiu de um dos memoráveis intelectuais negros - Marcus Mosiah Garvey e nasceu com o premissa de ser  principal afirmação política produzida na primeira das convenções anuais da Associação Universal do Progresso Negro. Adotada em 13 de agosto de 1920, após uma série de relatos de injustiça prevalecendo através do mundo Negro, o documento foi assinado por 122 delegados e observadores. Desde então ele foi reproduzido periodicamente no orgão oficial de notícias da associação, o Mundo Negro.

Para Marcus Garvey, o documento era “a propriedade de cada Negro em cada canto do mundo” e não deixava dúvidas sobre a determinação das pessoas Negras racialmente conscientes em preservar seus “direitos humanos … a todo custo”.

Confira na íntegra a Declaração:

1920 – DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO POVO NEGRO DO MUNDO
Associação Universal para o Progresso Negro
Fica resolvido que as pessoas Negras do mundo, através de seus representantes escolhidos na convenção reunida em Liberty Hall, na cidade de Nova York e Estados Unidos da América, em 1º de agosto à 31 de Agosto, no ano de nosso senhor, Mil novecentos e vinte, vão protestar contra violações dos direitos e injustiças que eles têm sofrido nas mãos de seus concidadãos brancos, e estamentar o que eles demandam justo e de direito, assim como o tratamento proposto às demandas de todos os homens no futuro.
Nós denunciamos:
I. Que em nenhum lugar do mundo, com poucas exceções, pessoas Negras compartilham de igual tratamento que pessoas brancas, ainda que na mesma situação e circunstâncias, mas, ao contrário, são discriminadas e tem seus direitos de seres humanos negados por não outra razão que sua raça e cor. Nós não aceitamos satisfeitos sermos hospedes em albergues e abrigos no mundo por não outra razão que nossa raça e cor.
II. Em certas partes dos Estados Unidos da América é negada à nossa raça o direito de um julgamento público concedido a outras raças quando acusadas de crime, mas somos linchados e queimados por multidões, e tal tratamento brutal e desumano é praticado mesmo contra nossas mulheres.
III. Aquelas nações européias que nos segmentaram e tomaram posse de praticamente todo o continente da África, e os nativos que foram forçados a ceder suas terras à alienígenas e tratados na maior parte das instâncias como escravos.
IV. Na porção sul dos Estados Unidos da América, apesar de cidadãos sob a Constituição Federal, e em alguns estados quase iguais em número à população branca e na qualidade de donos de terra e contribuintes, nós temos, no entanto, negada toda a voz na concepção e administração de leis e somos taxados sem a representação de governantes estaduais, e ao mesmo tempo compelidos ao serviço militar na defesa do país.
V. Nas ferrovias públicas e transportes coletivos na porção sul dos Estados Unidos nós somos segregados e compelidos a aceitar acomodações separadas e inferiores e induzidos a pagar o custo de acomodações de primeira classe, e nossas famílias são freqüentemente humilhadas e insultadas por homens brancos bêbados que habitualmente passam pelos vagões segregados com destino ao vagão de fumantes.
VI. Aos médicos de nossa raça são negados os direitos de atender seus pacientes em hospitais públicos de cidades e estados onde eles residem em certas partes dos Estados Unidos. Nossas crianças são forçadas a freqüentar escolas segregadas e por períodos menores que as crianças brancas, e os fundos das escolas públicas são igualmente divididos entre escolas brancas e de cor.
VII. Nós somos discriminados e impedidos de chances iguais de obter salário para o sustento de nossas famílias, e muitas vezes temos nossa admissão recusada em sindicatos, e praticamente em todo lugar são pagos menores salários que aos homens brancos.
VIII. No serviço civil e nas secretarias nós somos discriminados e forçados a sentir que ser uma pessoa Negra na Europa, América e Caribe é equivalente a ser uma forasteira e leprosa dentre a raça humana, não importa qual o caráter e realizações que uma pessoa Negra possa ter.
IX. Na ilhas Britânicas e outras Ilhas das Índias Ocidentais e colônias, Negros são secreta e ardilosamente discriminados, e negados de direitos plenos no governo aos quais os cidadãos brancos são empregados, nomeados e eleitos.
X. Que nosso povo nestes lugares são forçados a trabalhar por salários menores que o padrão médio de homens brancos e são mantidos em condições repugnantes para o gosto civilizado e bons costumes.
XI. Que muitos atos de injustiça contra os membros de nossa raça ante a tribunais nas respectivas ilhas e colônias são de tal natureza que criam desgosto e desrespeito ao senso de justiça do homem branco.
XII. Contra todo tipo de tratamento inumano, não cristão e não civilizado que nós, aqui e agora, enfaticamente protestamos e invocamos à condenação de toda a humanidade.

Com o intuito de encorajar nossa raça por todo o mundo e estimulá-la a um destino mais elevado e grandioso, nós demandamos e insistimos na seguinte Declaração de Direitos:
1 . Que seja do conhecimento de todas as pessoas em todo lugar, todos os seres humanos foram criados igualmente e fazem jus aos direitos à vida, liberdade e à busca da felicidade, e por causa disto nós, os devidamente elegidos representantes das pessoas Negras do mundo, invocando a ajuda do justo e todo poderoso Deus declaramos todos os homens mulheres e crianças de nosso sangue em todo o mundo cidadãos livres, e alegá-los como livres cidadãos da África, a Terra-mãe de todos os Negros.
2. Que nós acreditamos na suprema autoridade de nossa raça em todos os aspectos raciais; que todas as coisas são criadas e dadas ao homem como posse comum; que devem haver uma distribuição equitária e partilha de todas essas coisas, e em consideração ao fato que como uma raça nós estamos agora privados destas coisas que são moralmente e legalmente nossas, nós acreditamos que é certo que todas estas coisas devam ser adquiridas e mantidas por qualquer meios possível.
3. Que nós acreditamos que o Negro, como qualquer outra raça, deve ser governado pela ética da civilização, e, por conseguinte, não deveria ser privado destes direitos ou privilégios comuns a outros seres humanos.
4. Nós declaramos que os Negros, por qualquer meio que formem uma comunidade entre sí mesmos, devem ser cedidos os direitos de eleger suas próprias representações para atuar no legislativo, tribunais de justiça, ou tais instituições que possam exercer controle sobre uma particular comunidade.
5. Nós afirmamos que o Negro é merecedor de justiça imparcial ante todos os tribunais e equidade em qualquer país em que possa se encontrar, e quando isto é negado a ele graças a sua raça ou cor, tal negação é um insulto a raça como um todo e deve ser lamentado por todos os Negros.
6. Nós declaramos que é injusto e prejudicial aos direitos dos Negros nas comunidades onde eles existem em números consideráveis serem julgados por um juiz e júri composto totalmente por uma raça alheia, mas em todos os casos membros de nossa raça são merecedores de representação num júri.
7. Nós acreditamos que qualquer lei ou prática que tende a privar qualquer africano em sua terra ou os privilégios de livre cidadania dentro de seu país é injusto e imoral, e nenhum nativo deve respeitar tal lei ou prática.
8. Nós declaramos tributação sem representação injusta e tirana, e não deve haver obrigação da parte do Negro em obedecer a arrecadação da taxa por qualquer corpo legislativo ao qual ele é excluído e negado de representação graças a sua raça e cor.
9. Acreditamos que qualquer lei especialmente dirigida contra o Negro para seu prejuízo e que o mantém alijado por causa de sua raça ou cor é injusta e imoral, e não deve ser respeitada.
10. Nós acreditamos que todos os homens têm direito ao respeito humano comum e que a nossa raça não deve de maneira nenhuma tolerar qualquer insultos que possam ser interpretados como desrespeito à nossa raça ou cor.
11. Nós reprovamos o uso do termo “nigger”, tal como aplicado aos Negros, e exigimos que a palavra “Negro” seja escrita com um “N.” maiúsculo.
12. Acreditamos que o Negro deve adotar todos os meios para se proteger contra práticas bárbaras infligidas a ele por causa de sua cor.
13. Acreditamos na liberdade de África para o povo Negro do mundo, e pelo princípio da Europa para os europeus e da Ásia para os asiáticos; nós também exigimos a África para os africanos, em casa e no exterior.
14. Acreditamos no direito inerente do Negro de tomar posse de África e que a sua possessão sobre a mesma não será considerada como uma violação de qualquer reivindicação ou compra feita por qualquer raça ou nação.
15. Condenamos fortemente a cobiça das nações do mundo que, por agressão aberta ou esquemas secretos, tomaram os territórios e riquezas naturais inesgotáveis ​​de África, e nós registramos a nossa determinação mais solene de recuperar os tesouros e a posse do vasto continente de nossos antepassados.
16. Acreditamos que todos os homens devem viver em paz uns com os outros, mas quando as raças e nações provocam a ira de outras raças e nações pela tentativa de infringir seus direitos, a guerra torna-se inevitável, e a busca de alguma maneira para libertar a si mesmo e proteger os seus direitos ou herança torna-se justificável.
17. Considerando que o linchamento, a morte por incineração, o enforcamento ou suspensão por qualquer via de seres humanos é uma prática bárbara, uma vergonha e desgraça para a civilização, nós, portanto, declaramos que qualquer país culpado de tais atrocidades está fora dos limites da civilização.
18. Protestamos contra o crime atroz de açoitamento, flagelação e excesso de trabalho das tribos nativas de África e dos Negros por toda parte. Estes são métodos que devem ser abolidos e todos os meios devem ser tomados para evitar a continuação de tais práticas brutais.
19. Protestamos contra a prática atroz de, quando colocados nas prisões por uma raça alienígena, raspar a cabeça dos africanos, especialmente das mulheres Africanas ou indivíduos de sangue Negro, como punição por crime.
20. Protestamos contra distritos segregados, meios de transporte públicos separados, a discriminação industrial, linchamentos e as limitações dos privilégios políticos de qualquer cidadão Negro em qualquer parte do mundo por causa de raça, cor ou credo, e vamos exercer a toda nossa influência e poder contra essas práticas.
21. Protestamos contra qualquer punição severa infligida a um Negro, frente a uma punição mais branda infligida a outro de uma raça alienígena pela mesma ofensa , como um ato de preconceito e injustiça que deve ser ressentido por toda a raça.
22. Protestamos contra o sistema de ensino em qualquer país onde os Negros são negados os mesmos privilégios e vantagens que as outras raças.
23. Declaramos que é desumano e injusto boicotar Negros nas indústrias e no trabalho em qualquer parte do mundo.
24. Nós acreditamos na doutrina da liberdade de imprensa, e nós, portanto, enfaticamente protestamos contra a supressão de jornais e periódicos Negros em várias partes do mundo, e instamos os Negros em todos os lugares a empregar todos os meios disponíveis para evitar tal supressão.
25. Também exigimos a liberdade de expressão universalmente para todos os homens.
26. Vimos por este meio protestar contra a publicação de artigos escandalosos e inflamatórias por uma imprensa alienígena estrangeira criar conflitos raciais e a exibição de filmes que mostram o Negro como um canibal.
27. Acreditamos na auto-determinação de todos os povos.
28. Declaramos para a liberdade de culto religioso.
29. Com a ajuda de Deus Todo-Poderoso declaramo-nos protetores jurados da honra e da virtude de nossas mulheres e crianças, e comprometemos a nossa vida para a sua proteção e defesa em todos os lugares e sob todas as circunstâncias frente a erros e desmandos.
30. Exigimos o direito de uma educação sem limites e sem preconceitos para nós mesmos e para nossa posteridade para sempre.
31. Nós declaramos que o ensino, em qualquer escola por professores alheios a nossos meninos e meninas, que a raça alienígena é superior à raça Negra, é um insulto para o povo Negro do mundo.
32. Onde os Negros formam uma parte dos cidadãos de qualquer país, e passam no exame de serviço público desse país, nós declaramos que estes têm direito à mesma consideração que os outros cidadãos às nomeações em tal serviço público.
33. Nós vigorosamente protestamos contra o tratamento cada vez mais desleal e injusto concedido aos viajantes Negros em terra e mar pelos agentes e funcionários das estradas de ferro e companhias de navegação, e insistimos que por uma tarifa igual devemos receber os mesmos privilégios que os viajantes de outras raças.
34. Nós declaramos injusto qualquer país, Estado ou nação promulgar leis que tendem a dificultar e impedir a imigração de Negros livres em virtude da sua raça e cor.
35. Que o direito do Negro de viajar sem ser molestado por todo o mundo não seja abreviada por qualquer pessoa ou pessoas, e todos os Negros são convocados a ajudar um colega Negro quando assim molestado.
36. Nós declaramos que todos os Negros têm o mesmo direito de viajar o mundo como os outros homens.
37. Vimos por meio deste exigir que os governos do mundo reconheçam o nosso líder e seus representantes escolhidos pela raça para cuidar do bem-estar de nosso povo sob tais governos.
38. Exigimos o controle completo de nossas instituições sociais sem interferência por qualquer raça ou raças alienígenas.
39. Que as cores Vermelho,Preto e Verde são as cores da raça Negra.
40. Resolvido, que o hino “A Etiópia, terra de Nossos Pais, etc,” será o hino da raça Negra. . . .
41. Acreditamos que qualquer liberdade limitada, que priva um dos plenos direitos e prerrogativas de cidadania completa é apenas uma forma modificada de escravidão.
42. Nós declaramos que é uma injustiça para com nosso povo e um impedimento grave para a saúde da raça negar aos médicos Negros licenciados e competentes o direito de praticar nos hospitais públicos das comunidades em que residem, por nenhuma outra razão que não sua raça e cor .
43. Apelamos aos vários governos para que aceitem e reconheçam os representantes Negros que serão enviados a estes governos para representarem o bem-estar geral dos povos Negros do mundo.
44. Nós deploramos e protestamos contra a prática de confinar os presos jovens em prisões com adultos, e recomendamos que tais prisioneiros jovens devem aprender ofícios remunerados sob uma supervisão humana.
45. Está ainda mais resolvido, que nós, como raça de pessoas, declaramos a Liga das Nações nula e sem efeito no que se refere ao Negro, à medida em que visa privar os Negros de sua liberdade.
46. Exigimos de todos os homens sob nossa liderança apenas aquilo que nós mesmos faríamos, em nome da justiça; e nós apoiamos enfaticamente, para todos os homens, todos os direitos que reivindicamos aqui para nós.
47. Nós declaramos que nenhum Negro deve se envolver-se em batalha por uma raça alienígena, sem primeiro obter o consentimento do líder do povo Negro do mundo, exceto em uma questão de defesa nacional.
48. Protestamos contra a prática de convocar Negros e enviá-los para a guerra com forças alienígenas sem uma formação adequada, e demandamos que em todos os casos os soldados Negros recebam a mesma formação que os alienígenas.
49. Exigimos que as instruções dadas às crianças Negras nas escolas incluam o tema “História do Negro” para o seu benefício.
50. Exigimos uma relação livre e sem restrições comerciais com todo o povo Negro do mundo.
51. Declaramos a liberdade absoluta dos mares para todos os povos.
52. Exigimos que sejam dados a nossos representantes devidamente credenciados o reconhecimento apropriado em todas as ligas, conferências, convenções ou tribunais de arbitragem internacional sempre que os direitos humanos forem discutidos.
53. Proclamamos o dia 31 de agosto de cada ano como um feriado internacional para ser observado por todos os Negros.
54. Queremos que todos os homens saibam que vamos manter e lutar pela liberdade e igualdade de todo homem, mulher e criança da nossa raça, com as nossas vidas, nossas fortunas e nossa sagrada honra.
Estes direitos que acreditamos ser justificadamente nossos e adequados para a proteção da raça Negra em geral, e por causa dessa nossa crença que, em nome dos Negros 400 milhões do mundo, prometemos sobre e em defesa do sangue sagrado da raça e temos a honra de subscrever os nossos nomes como garantia da sua veracidade e fidelidade, na presença de Deus Todo-Poderoso, neste dia 13 de agosto, no ano de nosso Senhor de 1920.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Dia da Falsa Abolição



Neste 13 de Maio completam 124 anos da falsa abolição, dia ainda utilizado pela grande elite e seus meios de comunicação para enaltecer a “Princesa Isabel” e ainda pior, incutir no imaginário coletivo a pseudo-ideia de data mais importante para os negro e negras desse País. O movimento questiona até os dias de hoje como a historia é contada e deturpada principalmente nos livros didáticos.

Formalmente esse é o dia da “abolição da escravatura”, dia em que os escravos deixaram de ser tratados como “coisas”, mercadorias de propriedade de seus senhores pra tornarem-se “cidadãos”. Porém, cidadãos de uma sociedade que não estava e nem foi preparada para conceber os africanos e afrobrasileiros como tal.  Diferentemente dos europeus, que foram trazidos para o Brasil com o aporte financeiro e institucional do Estado, numa medida explícita de "política de ações afirmativas" às avessas, pois os europeus receberam subsídios e incentivos por parte do governo brasileiro. Por outro lado, este mesmo governo relegou aos ex-escravizados a herança maldita de viver às margens de uma sociedade racista e excludente, sem moradia, terra para trabalhar, educação e condições mínimas para sobreviver, nem mesmo tiveram direito à indenização pelo tempo de trabalho forçado. Condições que permanecem vivas em nosso cotidiano.

A escravidão foi e ainda é (pois não deixou de existir) o ato mais perverso, desumano e humilhante que a historia pode registrar, além de ser a maior fonte de lucratividade do capitalismo rendendo muitas riquezas para a elite brasileira a mesma que marginaliza e explora a força de trabalho, impulsionando o racismo com a ideologia hierárquica, dados estes que ocupam os índices do IBGE como a população que tem a maioria dos analfabetos, desempregados,  em situação de risco, ocupam as cadeias, a que mais morre entre outras mazelas.

Os anos se passaram, as relações sociais são recorrentes e dinâmicas e as situações de desigualdades e injustiças em relação aos grupos historicamente excluídos também se reconfiguram de acordo com as mudanças na sociedade. Entretanto, a historia é a mesma, ainda vive aqui um povo escravizado pelo sistema que não pagou e recusa-se pagar a divida moral, histórica, social, cultural e econômica, as cotas chegaram tarde e mesmo olhando o passado e o sofrimento desse povo ela é migalha perto do que toleraram e a abolição ainda é uma utopia.

sábado, 12 de maio de 2012

Rap Racismo Institucional


Um pouco desse som que serve para refletir sobre essa temática cotidiana que nem sempre é percebida.
M.C. Poca e Jamaica.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A presença dos descendentes de africanos no Amapá é impar. Sua influência vai da culinária à religião. Quem nunca teve a oportunidade de degustar um prato de vatapá ou prestigiou a Festa de Iemanjá na orla de Macapá na frente da cidade ou na Fazendinha ou então não presenciou a tradicional Festividade de São Tiago, no Mazagão Velho. Sendo assim, podemos perceber que a cultura afro influi consideravelmente na construção da identidade cultural do Estado.ue a população amapaense é notadamente composta por afrodescendentes. O Marabaixo, o Batuque, o Zimba e as Louceiras do Maruanum são culturas afroamapaenses que fazem do estado um potencial por natureza. Entretanto, todas estas contribuições da comunidade negra amapaense não significa que sua dignidade seja respeitada em sua plenitude. Ainda na segunda metade do século passado, representantes do Clero condenavam a prática do Marabaixo afirmando que o culto era uma manifestação de seres advindos das profundezas do inferno. Neste período, o marabaixo foi proibido de ser praticado em frente à Igreja de São José. No final dos anos 90 e início da década de 2000, outros episódios revelaram a intolerância em relação aos afrodescendentes, como por exemplo, a decisão de um juiz de proibir a realização do Marabaixo no Laguinho/Jesus de Nazaré. A tentativa de uma mineradora em despejar lixo mineral na comunidade quilombola do Curiaú. Ou mesmo, a utilização de uma área em uma comunidade quilombola para a criação de um aterro sanitário, conhecido popularmente, como lixeira pública. Recentemente, uma atitude intolerante da Igreja católica chamou a atenção da sociedade em proibir a entrada dos praticantes do Marabaixo do Laguinho com as Coroas da Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade.


Entretanto, queremos atentar para um caso muito particular ocorrido entre os anos de 2003 e 2005 na comunidade quilombola de São Raimundo do Pirativa. Trata-se do Caso da Cobaias Humanas, em que membros da comunidade foram utilizados como cobaias numa pesquisa sobre a malária. Nenhum responsável pela pesquisa foi punido, sequer responsabilizado criminalmente.

Nesta breve contextualização percebemos que a Abolição da Escravatura, assinada no Dia 13 de Maio de 1888, não proporcionou a plena liberdade do povo negro, tampouco, garantiu a dignidade para este contigente populacional no Brasil. De acordo com a Coordenadora de Articulação Política e Direitos Humanos da Fala Preta Organização de Mulheres Negras, Deise Benedito, o 14 de maio 1888 iniciaria a mais perversa trajetória de homens e mulheres, jovens e idosos negros no Brasil, agora na condição de “ex-escravo”. Portanto, é para este trecho que apontamos para uma reflexão acerca dos direitos humanos na perspectiva etnica/cor. No aspecto institucional – da transição da condição de escravo a homem e mulher livre – nada os acolheu: nenhuma política no campo da economia, educação, saúde, moradia; nenhum compromisso foi firmado com essa população, agora livre. As iniciativas criadas para estabelecer um equilíbrio social entre negros e não negros só foram possíveis a partir da organização e pressão de agrupamentos negros que lutaram e lutam pelos direitos deste segmento. Esta mesma reflexão devemos levar para o ambiente escolar como prerrogativa da implementação da Lei 10.639/2003, que institui o ensino da História e da Cultura Africana e Afrobrasileira na rede pública e privada de ensino.

terça-feira, 8 de maio de 2012

14 de Maio - O Dia que Vivemos Até Hoje - De Escravos à Cobaias Humanas



A paisagem é simplesmente fantástica. Logo de início o rio Pirativa se apresenta como o anfitrião do local e nos convida a mergulhar no universo bucólico da região. O movimento tranquilo das águas turvas e o verde da vegetação abundante decoram o cenário de uma das inúmeras comunidades quilombolas em terras tucujus. Entretanto, sua beleza fascinate escamoteia um dos episódios mais perversos da história recente do Amapá.




Com aproximadamente 200 habitantes, a Comunidade Remanescente de Quilombo São Raimundo do Pirativa, localizada à margem esquerda do rio Pirativa, no município de Santana, passou por uma experiência que evidencia uma das mais cruéis formas de violação dos direitos humanos - o uso como Cobaias Humanas de membros da comunidade. Em 2003, a Universidade da Flórida por meio do pesquisador Alan Kardec Gallardo chegou à localidade com a promessa de geração de emprego e benfeitorias para a comunidade como a construção de Posto de Saúde, em contra-partida, alguns habitantes da localidades tinham de participar da pesquisa denominada "Heterogeneidade Vetorial e Malária no Brasil”.



As pessoas aceitaram participar dos estudos para receber, em troca, de R$ 12 a R$ 20 por dia. Diariamente, eles eram submetidos a picadas de cem mosquitos transmissores da malária. Cada pessoa tinha de reunir cerca de 25 insetos por vez dentro de um copo e, então, eles colocavam o copo na perna para que os mosquitos chupassem seu sangue. De acordo com a Agente de Endemias, Rosirene dos Santos Nunes, a ocorrência da doença aumentou muito depois que a pesquisa começou. Dez pessoas participaram do projeto e todas elas foram contaminadas, além de que a doença se espalhou entre os outros ribeirinhos.



O caso foi denunciado inicialmente pelo promotor Haroldo Franco, da Promotoria de Justiça da Comarca de Santana e, havia sido comunicado pela própria comunidade. Em seguida, o caso ganhou repercussão nacional e internacional, tendo o acompanhamento da Comissão de Direitos Humanos do Senado, por meio do Senador Cristovam Buarque, que teve a oportunidade de visitar a comunidade e conhecer in loco a brutalidade com que a comunidade foi tratada. O líder comunitário, Sidney Siqueira chegou a denunciar o caso no Senado Federal, entretanto, nenhum dos responspaveias pela pesquisa foi punido. Segundo relatos de moradores, a pesquisa poderia também está cometendo o crime de bio-pirataria.



O projeto teve início em maio de 2003 e estava programado para acabar em abril de 2006, mas foi interrompido em dezembro de 2005 por determinação do Conselho Nacional de Saúde, antes disso, a Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), USP e Fiocruz havia aprovado a realização da pesquisa.



O projeto aprovado pelo Conselho de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (CEP), versão em português difere da versão original, em inglês. A tradução foi feita por um dos interessados, pesquisador ligado à Universidade de São Paulo, que omitiu trechos fundamentais do projeto. Uma das principais falhas é o fato de que as autoridades responsáveis não fiscalizaram em nenhum momento a execução do projeto de pesquisa nas localidades: São João do Matapi, Santo Antônio do Matapi e São Raimundo do Pirativa.



Devido à impunidade dos envovidos no caso e da omissão dos poderes instituídos, o Movimento Afro-Jovem do Amapá - MOAJA, o Forúm de Juventude Negra do Amapá - FOJUNE/AP, dentre outras organizações vêm realizar o manifesto 14 de Maio: "O dia em que Vivemos até Hoje: De Escravos à Cobaias Humanas". O evento será realizado no dia 14 de maio, na Praça Veiga Cabral, a partir das 14h00min e terá como objetivo mobilizar a sociedade amapaense para discutir sobre a falsa abolição da escravatura e, principalmente, chamar atenção para a situação de descaso com que a questão das cobaias humanas da Comunidade de São Raimundo do Pirativa. O evento terá oficinas, intervenções culturais, vídeos, entre outras. Vista sua camisa preta e venha para a luta em favor da defesa dos Direitos dos Quilombolas da Amazônia.




quinta-feira, 19 de abril de 2012

ACRE SE CALA SOBRE O USO DE COBAIAS HUMANAS NAS PESQUISAS DA MALÁRIA


Bancada federal acreana se mantém num estranho silêncio, 24 horas depois de a Associaç

ão Brasileira de Apoio e Proteção dos Sujeitos de Pesquisa Clínica (Abraspec) ter anunciado, na Agência Amazônia, que ingressará com ação civil pública no Ministério Público Federal contra o Governo do Acre e o Ministério da Saúde, pelo uso de cobaias humanas em experiências de combate ao anofelino – mosquito transmissor da malária.

Nem senadores ou deputados se pronunciaram a respeito do assunto. O mutismo tomou conta até mesmo do irriquieto deputado Ilderlei Cordeiro (PPS-AC), que vinha denunciando a situação crítica causada pela malária em municípios do Vale do Juruá.

Em vez de se manifestar para esclarecer até que ponto se envolveu com a experiência na floresta, o governo do Acre preferiu resgatar um velho método que o vem caracterizando: buscar convencer editores de jornais, rádio, televisão e sites a evitar a publicação de matérias. Isso ocorreu novamente em Rio Branco, na segunda-feira. Das cinco emissoras de TV no Estado, apenas a TV Acre (afiliada da Rede Globo) mencionou o caso em seus telejornais. Dos sites locais, apenas três deles (Ac24horas , Folha do Acre e Repórter 24 horas ). Este último foi o primeiro de comunicação a ter independência para denunciar o caso.

O silêncio também continua no Ministério Público Federal e no Ministério Público Estadual. A Agência Amazônia tentou ouviu hoje o procurador da República no Acre, Marcus Vinicius Aguiar Macedo. Ele não atendeu ao telefone celular.